Imagem: Stephanie Borges
Ingrid voltava da escola. Atravessava a rua atentamente, olhou para um lado, depois para o outro. Avistou um carro e decidiu esperar que ele passasse. Hoje é seu último dia de aula, ela está tão feliz que deseja que nada o estrague e, por isso, está tendo bastante cuidado. Com os cabelos loiros escovados presos num rabo de cavalo e sua farda verde destaca seus olhos claros. Em sua bolsa, ela carrega seu boletim, notas todas azuis que deixará na cabeceira da cama de sua mãe. Indy, como gosta de ser chamada, nunca se permite tirar uma nota menor que nove. Foi caminhando, saltitante, em direção a seu lar.
Do outro lado da rua, passava Mari com suas outras quatro amigas, todas em direção à parada de ônibus, alunas da mesma escola e mesmo cursinho de pré-vestibular. Mari, Dani, Lay, Mel e Ju são as mais estudiosas e comprometidas de sua turma. Os professores estão confiantes de que elas passarão na universidade pública na primeira tentativa. Todas querem se graduar em cursos diferentes, mas na mesma universidade, a Universidade de Pernambuco. Mari quer fazer Direito, pois assim será uma juíza, ganhará bastante dinheiro e comprará uma casa para sua mãe. Dani quer fazer Medicina, Lay quer fazer Computação, Mel quer fazer Jornalismo e Ju quer fazer Moda. Todas têm gostos totalmente diferentes, mas são unidas pelo mesmo objetivo, o de ser aprovada.
Mari, apesar de suas condições financeiras, é linda. Teve a sorte de nascer com uma genética quase perfeita. Morena, no tom de pele chocolate, cabelos cacheados com pontas queimadas do sol fazem uma perfeita sincronia com seus olhos quase negros. Ela também tem um sorriso bonito, nunca usou ou precisou usar aparelho ortodôntico. Com 1,70 de altura, Mari tem pernas longas que não são finas nem grossas, são um meio termo, igualmente seus braços.
Ingrid iria conhecer Mari, futuramente. As duas estavam destinadas a passar em Direito e frequentar a mesma turma. Mas o destino decidiu mudar seu rumo.
Mari teve um dia difícil. Acordou às cinco horas sendo espancada pela sua mãe. Ela prefere que a filha peça esmola na avenida do que estudar. Pedir esmola dá mais futuro que os estudos, reclama sempre. Mari tem cinco irmãos de pais diferentes. E todos os cinco pais largaram a sua mãe. Mari às vezes acha que sua mãe desconta a raiva nela pelo fato do pai de Mari tê-la largado. A mãe de Mari não sabe, mas Mari encontra seu pai todo final de semana numa praça, perto da biblioteca, onde ela passa a maior parte da sua noite estudando.
Mari teve um dia difícil. Acordou às cinco horas sendo espancada pela sua mãe. Ela prefere que a filha peça esmola na avenida do que estudar. Pedir esmola dá mais futuro que os estudos, reclama sempre. Mari tem cinco irmãos de pais diferentes. E todos os cinco pais largaram a sua mãe. Mari às vezes acha que sua mãe desconta a raiva nela pelo fato do pai de Mari tê-la largado. A mãe de Mari não sabe, mas Mari encontra seu pai todo final de semana numa praça, perto da biblioteca, onde ela passa a maior parte da sua noite estudando.
Mari pensou em todos os dias que sofria com os tormentos da mãe, por ter nascido pobre, principalmente. E foi aí que Ingrid apareceu toda feliz, linda, saudável e esbanjando simpatia. Mari não pensou muito, fazia tempo que estava guardando todo aquele rancor. A injustiça social a afetava diariamente. Sua pele, cabelo e olhos negros destinavam uma trajetória de vida desfavorecida. Foi tudo muito rápido. Ingrid se esbarrou em Mari. Ela pediu desculpas e procurou por algo em sua bolsa. Mari sentiu inveja de tudo na vida de Ingrid e transformou-a em raiva. Ela não aceitou seu pedido e, sem pensar, Mari agiu. Atacou Ingrid por trás, deu-lhe um tapa nas costas que fez Ingrid se assustar. Ingrid virou, encarando Mari. Mari continuou a machucá-la de diversas formas, dando murros e chutes, principalmente. Ingrid implorou por ajuda. As amigas de Mari, surpresas, encaravam a cena e gritaram desesperadamente, mandando-a parar.
A empregada ouviu os gritos de socorro de Ingrid, chamou a polícia e correu para salvá-la. Mas era tarde. Mari estava em chamas. Sua raiva queimava e se espalhava com tremenda intensidade. Ingrid parou de tentar se defender e foi jogada contra a parede. Desmaiou? Morreu? A consciência de Mari veio à tona. Ela estava cega de raiva. E havia descontado sua raiva em alguém inocente. Ingrid estava encolhida, com a respiração agitada, ela tentava não chorar. Esperava que aquele tormento acabasse. Dois homens passavam na rua, viram a cena e correram para socorrer a loirinha em apuros. Mari foi linchada por eles.
Por causa de um único momento Mari perdeu tudo o que havia conquistado. O respeito, o afeto e principalmente a consideração de todos que estavam envolvidos naquela tragédia. Um deslize de Mari a fez ser espancada várias vezes, resultando em 3 meses inconsciente no hospital público. Mari perdeu o seu tão importante dia, o dia da sua vida, os dias das provas que deveria ter feito. Já Ingrid ganhou um trauma psicológico tão sério que também foi hospitalizada. As duas passaram o mesmo período confinadas num hospital onde as únicas visitas que tinham eram de médicos e familiares.
As duas estavam destinadas a serem melhores amigas, hoje são apenas desconhecidas.
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