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Expressões racistas que precisam sair do nosso vocabulário




Já estávamos aderindo ao movimento #VidasNegrasImportam ou #BlackLivesMatter nas redes sociais, mas também estaremos publicando no blog informações pertinentes. O movimento combate a violência direcionada as pessoas negras resultante da morte de negros causada por policiais e questões amplas de discriminação racial e estrutural, a brutalidade policial e a desigualdade racial.

"Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista!" - Angela Davis.

O movimento também incentiva que todos aprendam sobre racismo. Leiam livros, escute podcasts, pesquisem. Ouçam pessoas pretas falando sobre isso. Compartilhe o seu conhecimento com outros. Dialogue com seus amigos, sua família, todos a sua volta. Fale sobre o que sabe e esteja aberto a adquirir conhecimento de outros. Pare de fazer "piadas" e comentários racistas onde quer que você esteja. Na escola, no trabalho. Não ache engraçado! Racismo mata, não é brincadeira. Racialize tudo. Se mantenha informado, saiba das notícias. Não torne seu posicionamento momentâneo. Apoie artistas negros. Leia, ouça, compre a causa, conheça intelectuais negros, valorize-nos. E não vote em racista.

A partir dos sites citados nas referências, no final dessa publicação, eu reuni expressões racistas que utilizamos comumente e que as mesmas carregam um significado histórico com origens sombrias e simbólicas do período de escravidão no Brasil. São elas:

Cor de pele
Aprende-se desde criança que “cor de pele” é aquele lápis rosa ou bege. Mas é evidente que o tom não representa a pele de todas as pessoas. Deve-se desconstruir a ideia de que somente rosa pode ser usado pra pintar a cor da pele das pessoas.

Cor do pecado
Antigamente ser negro era considerado pecado. Os poderosos da época junto com integrantes da Igreja Católica justificavam a escrivadão como um castigo divino. Então, dizer que alguém é da cor do pecado é algo negativo. Esse termo já foi título de novela, “da cor do pecado” e também se refere à imagem do negro (sobretudo da negra) como uma raça tentadora, sedutora e sensual, mas ainda assim negativamente. A expressão ainda ressalta a mulher negra como objeto de sexualização.

Moreno(a) ou Pardo(a)
Moreno, na realidade, tem seu significado original para caracterizar uma pessoa branca de cabelos pretos. Outro problema grave decorrente do pensamento racista enraizado na sociedade brasileira é a utilização destas expressões para referir-se a pessoas negras – o que confere à negritude um sentido pejorativo que beira o tabu. O pressuposto preconceituoso é denominar como moreno(a) e pardo(a) para não “ofender” alguém o chamando de negro ou negra. Substitua por negro de pele clara.

Mulato(a)
A palavra se refere à mula, um animal originado do cruzamento de burro com égua. Na época da escravidão muitas escravas eram abusadas pelos patrões e acabam engravidando. Os filhos eram chamados de mulatos por serem o resultado do cruzamento de um homem branco com uma mulher negra. Substitua por negro de pele clara.

Cabelo ruim
Esse e outros termos derivados depreciam o cabelo afro. Por vários séculos, causaram a negação do próprio corpo e a baixa autoestima entre as mulheres negras sem o “desejado” cabelo liso. Nem é preciso dizer o quanto as indústrias de cosméticos, muitas originárias de países europeus, se beneficiaram do padrão de beleza que excluía os negros. Substitua por cabelo crespo ou afro.

Negro de traços finos
A mesma lógica do clareamento se aplica à “beleza exótica”, tratando o que está fora da estética branca e europeia como incomum.

Denegrir
Com o significado de “tornar negro, escurecer”, denegrir se torna uma expressão racista quando é usada, comumente, de forma pejorativa, no sentido de difamar e desonrar alguém. Substitua por difamar, humilhar, diminuir.

Criado-mudo
A origem está nas atividades desempenhadas pelos escravos aos seus senhores de engenho. As pessoas escravizadas que faziam os serviços domésticos eram chamados de criados. Com a função de segurar as coisas para os donos das residências, os negros deveriam permanecer mudos para não atrapalhar os moradores das casas grandes. Assim surgiu o termo, aplicado ao móvel.
Substitua por mesinha-de-cabeceira.

A dar com pau
Teve origem em navios negreiros onde os negros preferiam morrer do que serem escravizados. E para isso faziam greve de fome na travessia entre o continente africano e o Brasil. Para obrigá-los a se alimentar, então criou o "o pau de comer" onde era atravessado na boca dos escravos e jogavam sapa e angu, aí surgiu a expressão "a dar com pau".

Ter um pé na cozinha
Forma racista de falar de uma pessoa com origem negra. Infeliz recordação do período da escravidão em que o único lugar permitido às mulheres negras era a cozinha da casa grande. Uma realidade ainda longe de mudar no Brasil. E o mesmo serve para "A conversa ainda não chegou na cozinha".

Doméstica
Domésticas eram as mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e eram consideradas domesticadas. Isso porque os negros eram vistos como animais e por isso precisavam ser domesticados através da tortura.

Fazer nas coxas
A expressão é usada quando se faz algo de forma desleixada, de qualquer jeito. O termo surgiu pelo hábito das pessoas escravizadas moldarem telhas em suas coxas. Devido aos diferentes formatos de corpos, elas acabavam não se encaixando corretamente e, por isso estariam mal feitas.

Disputar a nega
Essa expressão, que significa disputar mais uma partida de qualquer jogo para desempatá-lo, possui sua origem não só na escravidão, como também na misoginia e no estupro (o que espanta que até hoje seja utilizada com tanta naturalidade). Sua história é simples e intuitiva: quase sempre, quando os senhores do passado jogavam algum esporte ou jogo, o prêmio era uma escrava negra.

Boçal
A palavra quer dizer “rude, grosseiro, imbecil ou ignorante”. Mas a sua origem era usada para designar os negros vindos da África que ainda não sabiam se comunicar na língua portuguesa. Por eles não conseguirem usar o português, eram vistos como menos instruídos, por isso a expressão logo se popularizou e começou a ser usada para designar qualquer pessoa que não tenha instrução.

Samba do crioulo doido
Título do samba que satirizava o ensino de História do Brasil nas escolas do país nos tempos da ditadura, composto por Sérgio Porto. No entanto, a expressão debochada, que significa confusão ou trapalhada, reafirma um estereótipo e a discriminação aos negros.

Tem caroço nesse angu
A expressão, que significa que alguém estaria escondendo algo, tem sua origem em um truque realizado pelos escravos para melhor se alimentarem. Se muitas vezes o prato servido era composto exclusivamente de uma porção de angu de fubá, a escrava que lhes servia por vezes conseguia dar um jeito de esconder um pedaço de carne ou alguns torresmos embaixo do angu. A expressão nasceu do comentário de um ou outro escravo a respeito de certo prato que lhe parecesse suspeito.

Lavei a égua
A expressão “lavar a égua”, que quer dizer aproveitar, se dar bem, se redimir em algo, vem também da exploração do ouro, quando os escravos mais corajosos tentavam esconder algumas pepitas debaixo da crina do animal, ou esfregavam ouro em pó em sua pele. Depois pediam para lavar o animal e, com isso, recuperar o ouro escondido para, quem sabe, comprar sua própria liberdade. Os que eram descobertos, porém, poderiam ser açoitados até a morte.

Meia tigela
No período monárquico no Brasil, os criados recebiam uma refeição, que era estabelecida pelo império de acordo com a importância dos serviços prestados. Os escravos que trabalhavam em minas de ouro também passavam por isso. Quando não cumpriam com todas suas exaustivas e desumanas obrigações, os mesmos eram punidos e recebiam apenas metade da tigela com comida. Daí vem o termo, que hoje tem como significado algo medíocre, sem valor.

Inveja branca
A ideia do branco como algo positivo é impregnada na expressão que reforça, ao mesmo tempo, a associação entre preto e comportamentos negativos. Na contramão de todas as expressões e palavras anteriores, "inveja branca" significa uma inveja que não faz mal, que é do bem. Ou seja, associando à cor branca a coisa é boa, legal e não machuca. Substitua por inveja.

Dia de branco
Dia de branco é utilizado para se referir a dia de trabalho, responsabilidade e compromissos. Como se só gente branca trabalhasse duro. Isso porque antigamente o trabalho dos escravos não era considerado trabalho e essa ideia perpetua até hoje.

Não sou tuas negas
A mulher negra como “qualquer uma” ou “de todo mundo” indica a forma como a sociedade a percebe: alguém com quem se pode fazer tudo. Escravas negras eram literalmente propriedade dos homens brancos e utilizadas para satisfazer desejos sexuais, em um tempo no qual assédios e estupros eram ainda mais recorrentes. Portanto, além de profundamente racista, o termo é carregado de machismo.

Espírito de porco
Ainda que a origem da expressão venha da injusta má fama associada ao animal, por uma ideia de falta de higiene, sujeira e impureza, tal má fama é oriunda de princípios religiosos. Durante o período escravocrata, os escravos se recusavam e eram obrigados a matar o animal, para que servisse de alimento. A recusa vinha porque se acreditava que o espírito do animal abatido permaneceria no corpo de quem o matasse pelo resto de sua vida e, para complementar tal crença, a incrível semelhança que o choro do porco possui com um lamento humano tornava o ritual ainda mais assustador.

Para inglês ver
Essa expressão tem sua origem na escravidão, e também no mal hábito ainda atual brasileiro de aprovar leis que não “pegam” (que ninguém cumpre e nem é punido por isso). Em 1830, a Inglaterra exigiu que o Brasil criasse um esforço para acabar com o tráfico de escravos, e impusesse enfim leis que coibissem tal prática. O Brasil acatou a exigência inglesa, mas as autoridades daqui sabiam que tal lei simplesmente não seria cumprida – eram leis existentes somente em um papel, “para inglês ver”.

Serviço de preto
Usada quando o trabalho foi mal realizado. Insinua a desqualificação do negro. Substitua por serviço mal feito.

A coisa tá preta
A expressão é usada quando alguma situação está desconfortável, desagradável, difícil, perigosa, trazendo a imagem do preto como desfavorável.

Mercado negro
O termo é usado para promover ações ilegais, errado, ilícito. Mais uma vez, negro sendo usado com uma conotação negativa para se referir a algo proibido, ilegal, perigoso e ruim.
Substitua por mercado ilegal.

Lista negra
Essa expressão é sempre utilizada de forma negativa. Uma pessoa estar em uma "lista negra" significa que ela está sendo perseguida ou que não poderá mais adentrar em certos ambientes. A palavra negra é colocada nessa afirmação de forma pejorativa e, mais uma vez, racista.

Ovelha negra
Essa expressão é muito usada para designar uma pessoa que se destoa das outras de um mesmo grupo. É a pessoa “diferente”, pois todas as ovelhas são brancas, então uma “negra” seria estranha. Mas, por que usar essa comparação? Serve para reforçar que o normal é ser branco e ser negro é diferente e esquisito. E sabemos que isso não é real.

Câmbio negro
Comércio ou transação ilegal.

Prejuízo preto
Prejuízo imenso.

Caixa-preta
Falta de transparência.

Humor negro
Humor que choca pelo uso de elementos mórbidos ou macabros.

Magia negra
Bruxaria.

Peste negra
Doença que assolou a Europa na Idade Média.

Besta negra
Inimigo, problema de difícil solução.

Asa negra
Pessoa que prejudica ou embaraça um grupo com frequência.

Evidencia-se que a palavra "negro" é tratada como algo ruim e negativo em todas expressões presentes. Eu sei que as expressões que expliquei acima ainda não são todas que carregam o racismo estrutural. Acredito que seja necessário que todos fiquem atentos à palavras comuns que cotidianamente utilizamos.

É preciso praticar o antiracismo diariamente nos questionando com expressões que façam a lógica do clareamento, do branqueamento e da associação inadvertida de conotações negativas ao que é preto. Como por exemplo "claramente", "é claro" e "esclarecer" poderiam ser substituídas por ‘explicar’, ‘explicitar’, ‘elucidar’, ‘deixar evidente’, ‘tornar nítido’, ‘dirimir dúvidas’. A concretização de transformações como essas desenvolvem-se para que sigamos juntas(os) na construção de posições mais cientes dos processos de desigualdade social estruturantes da sociedade brasileira.


Referências:

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